há exatamente 33 anos e um mês morria o corpo de clarice. eu poderia estar por aí brincando ou decidindo o que queria ser quando crescesse, mas não. eu nem havia nascido, e nem estava nos planos de ninguém por aqui. é por esse motivo que é tão equivocado falar que a escritora algum dia esteve morta. enquanto muitos choravam e se despedaçavam com o corpo daquela mulher tão viva e diabólica (segundo relatos - inclusive de caio f. abreu e luís fernando verissímo) sendo velado e enterrado no calor inferno carioca, muitos nem tomavam conhecimento da existência da mesma. muitos sentiriam falta das suas ações mesmo depois de anos. a verdade é que clarice sempre foi uma alma. uma alma impregnada em cada página de seus livros, em cada entre-linha, em cada palavra que colocava para fora à procura do incerto, da coisa. e almas, bom, almas não morrem. elas continuam e continuam ao além e mais. imprimiu não só palavras de uma sabedoria e de uma incógnita inacreditável, ela se imprimiu nas entre-linhas. ela ainda é dona de vidas que não morrem, de lágrimas que se confortam e de sorrisos sinceros. a mulher dos olhos hipnóticos conseguiu carimbar-se na história e dentre os quatro ventos, conseguiu desafiar a morte e vencê-la.
porque o dia dela não deveria ser em dezembro. todo dia deveria ser dia de clarice.