quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Às vezes o que eu vejo, quase ninguém vê.

Duas e cinquenta e dois da manhã, quarta feira, vinte de outubro de dois mil e dez. Horário de verão, frio de uma madrugada brasileira qualquer. Sem sono, sem insônia. Precisamente, duas doses de calmante e uma xícara de café.
Eu ainda tenho telefone em casa (ainda, porque divido a casa com duas pessoas), mas não quero que toque. Não quero que nunca toque. Prefiro continuar ouvindo apenas a música e lendo algum conto por aí. Sabe, tenho mania de adorar obras de gente morta, quase um vício, salvo umas excessões. Digamos que sou um zumbi que sustenta o vampirismo, é.
A minha janela está semi-aberta e não sei se alguém passará pela calçada, sei que as folhas da árvore estão graciosamente fazendo ventar sobre todo o seu redor, e meu cabelo está indiferentemente frizzado. Vai chover, tomara que chova. Me dá vontade de sair por aí e tomar um café em qualquer lugarzinho vinte quatro horas. Acender um cigarro, um incenso e acordar uma cartomante.
Não sei. Tenho uma nítida impressão de que as pessoas são feitas pelo vento. Deixo ele encher meus pulmões e me empurrar para qualquer lugar.


Em tempos mortos é tão mais fácil escrever sobre as coisas ao seu redor, as coisas que tempos atrás, não percebia.

8 comentários:

Andorinha disse...

"Tenho uma nítida impressão de que as pessoas são feitas pelo vento. Deixo ele encher meus pulmões e me empurrar para qualquer lugar.
Em tempos mortos é tão mais fácil escrever sobre as coisas ao seu redor, as coisas que tempos atrás, não percebia. "
Linda a postagem. Simplesmente linda. Gostei de suas palavras no início ao fim, mas, esses dois parágrafos, foram os meus preferidos porque me definiram por eu ter o mesmo pensamento que o seu em relação ao vento e fazer o mesmo também, respirá-lo e andar para ver até aonde eu posso chegar e descobrir qual é o meu limite.
Ah, e sobre o segundo parágrafo que destaquei nesse comentário, bem, o presente às vezes não é tão notado ou tão vivido como deveria ser, infelizmente. Mas vale relembrá-lo, vale dizer que esse suposto presente tornou-se inesquecível e que "em tempos mortos", como você mesma disse, ele te faça viver um pouco mais, respirar um pouco mais e aproveitar o vento, o caminho, os passos.

Jeferson Cardoso disse...

Como está escrito em Eclesiastes, "tudo tem seu tempo determinado". Abraços.

Quero aproveitar e lhe convidar para ler “Para o final a contemplação” no meu http://jefhcardoso.blogspot.com
Será um prazer lhe receber.

“Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)

gabi disse...

eu gostei do termo 'tempos mortos'.

Violeta disse...

os textos de madrugada são os melhores. é preciso, algumas vezes, de silêncio, tempo e café pra perceber algumas coisas.
se cuida :*

gabi disse...

Tem selo :*

Carla Maria de Oliveira disse...

Uau! vc escreve muitíssimo bem!

Francisco Casa Nova disse...

sem querer achei alguém que se mistura ao vento como eu.
muito bom esse post,fiquei agora ansioso pelo próximo, sorte com as palavras...

simpatia fora de moda disse...

amei teu blog :)