quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Só porque há cores.

Sabe, me acho pesada.
Não de balança, não de banha. Mas pesada de alma mesmo. Peso tal que tudo é intenso, tudo é mais concentrado, mais radicalizado, mais mortal, mais vital. Li uma vez que os animais não são capazes de amenizar sentimentos, então quando um animal sente, ele sente de verdade, com todo o peso da alegria, da tristeza, do desejo. Os seres humanos conseguem amenizar tudo isso, conseguem sentir em uma intensidade menor, não sofrem tanto. Sei lá, lendo aquilo me senti uma animal irracional, aliás, me sinto assim até hoje.
O que reclamo e o que me alegro não chegam nem na metade do que realmente sinto, e quando digo que está tudo doendo, é por que dói de verdade. Lá no fundo, entende? Num lugar que não sei explicar ao certo. Dói porque meu coração está extremamente machucado de amar errado. Essa ladainha toda de ter um ou outro gostando de mim e eu morrendo de amores por quem não sente absolutamente nada. É um porre.
Jurei para mim mesma que não irei mais escrever dela. Ela nem anda falando comigo, e eu venho aqui para falar dela? De novo e novamente? Por Deus, me sinto ridícula.
Existem cores no mundo, entende? Cada sentimento é uma cor, cada pessoa é como se fosse um pixel disso tudo. Por mais que branco e preto sejam bonitos e tudo mais, existem cores. Ora, o que acabo de escrever? Sei lá, oras. Sei que o amor é o filmezinho francês em branco e preto, todos desejam ter um desses em casa e acabam esquecendo do resto. Do churrasco no feriado, da amiga indecisa, do amigo satânico, da tia religiosa. Do que te faz rir.
Já viram filmes franceses em branco e preto? É uma guerra. Lindissímo, mas tão diferente da Disney, onde tudo acaba feliz. Existe medo, bebida, cigarro, tapas, sexo, choro, ciúme. É amor, puro amor em forma de filme. Faz com que (sofrer por) amor seja bonitinho e fascinante, mas na realidade, dói. Machuca, cansa, se torna patético, é uma merda. E mais um monte de coisas.
Sei lá. Tudo o que queria era escrever algo leve, mas não acho que consegui. Assim como nunca consegui fazer alguém me amar por algo doce que escrevi.

P.S.: Desculpem o peso, mas escrevo somente com a alma, e isso não sei mudar.
P.S. do P.S.: De forma prepotente, entendo como Caio e Clarice (sobre)viveram. Eles viram o que outros não viram. Viram que há cores no mundo. Há co-res, felizmente.

8 comentários:

Carol Lago disse...

q lindo!
viva as cores, mesmo q as vezes a gente olhe pros lados e não as veja.

Moniky disse...

"As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim,
mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão
de matizes e entonações a cada momento que passa."

Como sobrevivem as pessoas, se não notam a existência das cores?!

Gostei. Muito bom mesmo.
Fica na boa, byebye'

Jessie Linne disse...

Explêndido! Maravilhoso seu texto. Amei!
"Dói porque meu coração está extremamente machucado de amar errado. Essa ladainha toda de ter um ou outro gostando de mim e eu morrendo de amores por quem não sente absolutamente nada. É um porre."

Cada pessoa ama do seu jeito e cada amor é um amor, mas no final das contas as dores são as mesmas, não é? =(

Felicidade Clandestina. disse...

Nossa ,*-* eu viajei nesse texto...

escrever com a alma. sim , isso é algo divino, mesmo que as vezes a gente sinta pesar !

amei o texto :* beijos flor

Noé disse...

Receita da "tia" Olga para mulheres pesadas "não de balança":

- Comidinha leve no dia, e na véspera.
- Banho de sal e logo depois perfume, à tarde.
- Vestido esvoaçante e olhar 23.
- Passar no culto das seis da tarde.
- Pronto, olhe em volta e escolha a dedo!

Ps. Usar só em noite de lua cheia.
Ps do Ps. Só assistir um a cada cinco filmes franceses, porque não tem coisa que carrega mais do que filme francês.

Carol Oliveira disse...

Que lindoo!
Me lembrou um pouquinho do início do livro "A Menina que Roubava livros" :) Muito bom!




http://remedioparatedio.blogspot.com/

Alysson disse...

Eu gosto dessa forma intensa como você escreve! Coisas do tipo "...(sofrer por) amor seja bonitinho e fascinante, mas na realidade, dói. Machuca, cansa, se torna patético, é uma merda" só podem sair de alguém que é muito sincera consigo e com seus sentimentos. Essa avalanche de sentimentos também é conhecida minha e vez por outra ela me dá uma folga pra eu conhecer a liberdade e sentir saudades dela, porque não tem jeito, como você mesma disse em outro texto "sentimento demais dá nisso"!

Uma das duas ou as duas. disse...

incrível.
olha, sei lá, acho que as melhores pessoas são assim. intensas.
tem razão quando disse: ''Tudo o que queria era escrever algo leve, mas não acho que consegui.'' uma pessoa como você nunca vai escrever algo leve.
E não tem razão quando disse: ''Assim como nunca consegui fazer alguém me amar por algo doce que escrevi.''
acho que há pessoas que amam você pelo que escreve.
sei lá... ah, e eu nunca vi filmes franceses em preto e branco.

-carol